quarta-feira, 25 de abril de 2007

E por falar em Ibope...

Cena 1
Vestindo uma camiseta masculina, ela senta-se na ponta da cama, enquanto seca os cabelos com uma toalha. Jovem, alta, uns vinte e poucos anos, pele morena, cabelos enrolados, corpo de babar."Você não tem idéia o bem que faz um jantar quente na vida de uma pessoa. E o banho! Nossa, você não sabe que chuveiro bom você tem. Parece que lava até a alma. E quente! Porque o meu é assim: três pingos e depois de dois minutos esfria" - diz a linda moça de sotaque baiano.
Na outra ponta da cama, um moço bonito, de ropão preto, olha interessado nos olhos dela, com um sorriso no canto da boca.
"Sabe eu tô aprendendo uma coisa sobre os ricos". "E o que é?" - pergunta ele, arrastando-se para mais perto da jovem. "Rico, mas rico mesmo, a gente vê nas pequenas coisas. Porque carrão, apartamentão, qualquer bandido por aí tem. Mas, chuveiro bom, toalha boa, até essa camiseta velha tem alguma coisa que você coloca para ela ficar assim macia. É aí que a gente vê quem é rico".
Ela muda o tom, olha pro nada e continua. "Hoje ia ser uma das piores noites da minha vida. A rua ninguém merece. A gente se sente uma criança de cinco anos perdida".
"Mas você não é mais criança. Não precisa mais ter medo". O moço passa o rosto na perna dela, beija, sobe pelo braço, rosto. "Sabia que eu conheço mulheres que dariam a vida para ter uma pele como a sua, macia. E o cheiro. Você tem cheiro de fruta. Um cheiro só seu". Ela ri timidamente. E caí uma lágrima. Eles se beijam delicadamente.

Cena 2

O mesmo quarto. Ela dorme. Ele está em frente ao lap top em uma mesa próxima a cama. Toca o telefone. "Acorda, chegou seu táxi". "Taxi? Que taxi?" - pergunta ainda sonolenta. "Seu taxi. Você não achou que só porque eu te dei comida, banho quente, que você fosse morar aqui, que iamos ser namoradinhos, né?".
Frustrada. "Não, claro que não". Levanta, se recompõe, arruma o cabelo, põe a mão na cintura e vira-se para ele. "Não sou dessas não que se enganam por qualquer coisa"- diz já com voz agressiva. Encara-o e estende a mão. "Você também não pensou que fosse ser de graça, né?". "Não, claro que não" - tentando disfarçar o esquecimento. Abre a carteira, entrega o dinheiro. "Agora é mais caro. Eu já tinha terminado meu expediente, foi você que insistiu". Entrega mais dinheiro.

Cena 3

Ela saí do banheiro com um vestido longo, muito decotado e justíssimo. Coloca a camiseta emprestada no sofá que ele está sentando brincando com o gelo do copo. "tô indo nessa". "Tá". Ela indica a porta com a cabeça. "Tá, eu abro". Ela nunca abre a porta. Ele a acompanha, salivando o seu caminhar. Abre a porta. Ela volta-se para ele. "Tchau". Ele aproxima-se para beijá-la. Ela recusa. "Agora não. Acabou o expediente". Vira-se e vai embora. Ele volta ao sofá, pega a camiseta, cheira e abraça. "Que mulher!"- diz com tom triste de despedida.
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Uma seqüência de cena perfeita, com atuação excepcional dos atores. Além de um texto bom e simples, cada pausa, corte, olhar e gesto dos personagens compôs bem a curta história, sem sair do tom. História até batida, mas com personagens bem construídos, o cara não era príncipe encantado - tipo Richard Gere - e ela não era a mocinha romântica, Julia Roberts, em Uma Linda Mulher. Era o encontro de dois vilões. Cena para ser colocada em filmes clássicos. Dessas de se lembrar por um tempão.

Mas não é cena de cinema. É novela, TV, e como tal não fica guardada, não vira DVD, não é vista em tela grande. Ela é a Bebel (Camila Pitanga), ele é o Olavo (Wagner Moura) de Paraíso Tropical do Giberto Braga.
Ele é o classico da Televisão (Vale Tudo, Anos Rebeldes e Celebridades, são geniais pra mim). E agora ficam falando de sua decadencia por causa do fracasso de audiencia da novela atual. Depois dessa cena e de um capítulo recheado de personagens coadjuvantes bem construídos, não consigo entender o motivo de tal fracasso.

Obs: Será que existe alguém mais noveleira do que eu?

Um comentário:

Anônimo disse...

Hummmmmmmmm... Eu?