quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Essa falta de coragem

Eu sempre morei na mesma cidade, bairro e casa. Eu raramente dispensei namorado, sempre tive amizades duradouras e uma certa estabilidade no trabalho. Tudo isso porque eu detesto a dúvida, e principalmente odeio abrir mão de algo. Detesto pensar e se eu trocar de namorado, como será? Será que ele vai me amar? Será que a outra empresa vai ser melhor, terá um bom clima ou um chefe grosseiro? Será que vou me sentir tão bem em outra casa? Acho que até o meu jeito levemente "pão duro" tem a ver com esse excesso de prudência - é melhor ter o dinheiro para depois decidir como gastar do que se arrepender quando for tarde.


Ai, essa falta de coragem - que não sei se é sintoma de equilíbrio e sensatez, ou de pura covardia e preguiça mesmo. Pode parecer estranho mas chego a ser um tipo de pessoa que curte a rotina (apesar de detestar horários e regras). Curto acordar e saber pra onde ir, que no domingo a macarronada continuará deliciosa, que quando me sentir desprotegida vou saber exatamente a quem pedir socorro, e ouvir (mesmo que com desconfiança) que aquele sentimento bom vai durar pra sempre.


Essa semana foi curta, mas intensa e tensa. Tive de escolher e abrir mão de algumas coisas. Na decisão profissional fui pelo lado mais fácil, o de quem não arrisca. Numa insegurança tremenda - noites em claro, idéias que mudavam drasticamente a cada meia hora, e pedidos de conselho até para o taxista, o prazo final chegou e tive de abrir mão da proposta nova. Me pareceu um "não" mais fácil do que dizer "adeus" ao bom emprego atual. Tenho certeza que vou me arrepender da decisão, afinal tive de abrir mão de uma das escolhas. E tenho certeza que me arrependeria se escolhesse o outro caminho.



Desde ontem a noite, estou tentando tomar a segunda decisão da semana. Mas preciso desistir de algo, e taí justamente o que não sei fazer. Não sei sair de lugar algum sem olhar pra trás. Mas estou prometendo pra mim mesma que já está na hora de aprender. Não desistir de algo pode ser covardia pura.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mi, acho que cabe bem uma frase do Guimarães Rosa: "O correr da vida embrulha tudo. a vida é assim: esquenta, esfria, aperta e daí afrouxa. sossega e desenquieta. o que ela quer da gente é coragem."
Talvez essa decisão que tomou foi não tenha sido a mais fácil, afinal de contas todas essas noites em claro fizeram você refletir e muito. Não seria mais importante a "travessia" do que o destino final?

Anônimo disse...

Palmas para o último parágrafo. Gostei.

Anônimo disse...

Belíssimo texto.
Não tem como saber se a escolha que você fez foi a correta ou não. Por isso, vamos em frente, e se algo der errado não vá olhar pra trás e dizer - "Por que eu não fui por aquele caminho?" - Você não foi porque não era pra ir. Parece uma resposta ridícula pra complexidade que é nossa vida, mas as vezes é no ridículo que está a melhor explicação.

Anônimo disse...

necessario verificar:)