quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A gente se acostuma, mas não devia

Na segunda-feira, assisti o Roda Viva com a Isabel Allende, deputada chilena e filha do presidente Salvador Allende. Meu professor de espanhol tem razão, temos muito o que aprender com eles.


Ele se orgulha de dizer que Michelle Bacheret teve de mudar sua agenda após intensas manifestações estudantis no ano passado para melhorar a qualidade do ensino. Manifestações de estudantes secundaristas. Onde estão os estudantes secundaristas do Brasil? Aliás, aqui, boa parte dos estudantes de Direito da USP apoiaram o ato da
reitoria de expulsar com Tropa de Choque grupos que se manifestaram pacificamente pela educação.


Desde 1990, quando a Concertacion chegou ao poder, a pobreza diminuiu de 40 para 16, segundo Allende. A alternancia de poder é permitida com a democracia, mas a direita e a esquerda radical tem pouca representatividade no país. Por que? Medo da ditadura. No Chile, dificilmente surgiria um Chavez por exemplo. E por que aqui parece que ninguém tem medo do nosso passado. Pelo contrário, parecem ter saudade. ACM (pai, filho e neto), Maluf, e outros tantos coroneis que já formaram a Arena, partido ligados aos militares durante a ditadura, continuam a se revezar no poder. (mesmo com alguma perda de sua força política nas últimas eleições).


Existem algumas diferenças históricas entre o militarismo chileno e brasileiro que justificam esse nosso destemor. Tivemos alternancia de presidentes, o que de certa forma pode ter dado uma idéia de democracia. Idéia essa que o Chile não teve. Goulart foi deposto, já Allende "foi suicidado", o que choca bem mais a população.


Mas o que acho é que o brasileiro tem a capacidade única de se acostumar com seus problemas. Daí, fica tudo bem se livram a cara de Calheiros e mensaleiros. E no final da história, a amante do corrupto se enche de dinheiro posando nua. Como dizia a poeta: A gente se acostuma, mas não devia...


Hoje estou com nojo de ser viver no Brasil. NO-JO!

3 comentários:

Anônimo disse...

... e no Chile tamb�m o neg�cio foi mais violento, dizem que o rio Mapocho ficou vermelho do sangue dos que eram contra o governo. Ali�s, alguns sobreviveram gra�as � habilidade de se fingirem de mortos entre os mortos no rio.

Enfim, h� toda uma explica�o sociol�gica e cultural para o fato de os brasileiros se acostumarem mais, principalmente relacionados com o tipo de coloniza�o e os povos que formaram o pa�s.
N�o que isso amenize o problema, mas achei interessante quando li sobre isso.

E s� para tornar seu texto mais exato, hehehe... a chamada da tropa de choque foi feita pela diretoria da faculdade, n�o pela reitoria. Os alunos, em sua maioria, repudiaram a entrada do choque (ainda que tenham se oposto � manifesta�o em si). E alguns podem dizer que ela - a manifesta�o - n�o tenha sido completamente pac�fica, tendo ocorrido ofensas verbais e uma limita�o de entrada/sa�da na faculdade. N�o � a minha opini�o, mas apenas para informar.

Voc� est� certa em sua revolta, era isso o mais importante.

Anônimo disse...

A diferença de comportamento entre nós, brasileiros, e os demais povos latino-americanos é brutal mesmo. O que é uma pena, né? Falta ser um pouco mais "argentino", "boliviano", "chileno", "mexicano" de vez em quando.

Sobre a questão USP/manifestação, você sabe que eu discordo, né? :P

Mas calma, vai: o Brasil ainda tem jeito. Eu acho.

Francine Barbosa disse...

O pior é que de histeria em histeria, de escândalo em escândalo, a gente se esqueça de problemas mais fundamentais: educação, saúde, distribuição de renda...

Os secundaristas (maioria) estão correndo atrás de emprego.

bjos