quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A sanidade venceu o medo

A frase acima não é minha. Foi publicada pelo jornal inglês The Guardian sobre a vitória de Dilma Rousseff como presidente do Brasil. Neste artigo, apelidam o candidato tucano de “Serra Palin”, comparando-o a conservadora republicada Sarah Palin dos Estados Unidos, uma vez que a discussão no segundo turno da campanha ficou bastante centrada em temas religiosos. E diz o seguinte:

“But in the end, sanity triumphed over fear, as voters proved to have been more convinced by the substantial improvements in their well-being during the Lula years than anything Serra had to offer”.

O artigo é um elogio ao governo petista, mas também aos eleitores brasileiros por sua escolha coerente. Diz que a campanha de Serra foi uma cópia ao modelo dos republicanos. Algo que tem funcionado nos últimos 40 anos nos Estados Unidos, porém no Brasil, os eleitores querem mais que discursos, querem saber quais melhoras práticas o candidato oferece para suas vidas.

O articulista procura englobar aspectos negativos do atual governo na política interna e externa e também questões importantes que a nova presidente terá de resolver. Vale a leitura sobre o que um dos jornais mais importante da Europa está falando sobre a gente.
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Ouvi gente bastante preocupada com a falta de experiência de Dilma. Declarando medo do que está por vir nas redes sociais. Não custa lembrar que durante a campanha de 2002, Regina Duarte também tinha muito medo do governo que viria com Lula. Certamente não foi um governo exemplar, mas foi um governo em que tivemos tantos avanços sociais e manutenção sensata da estabilidade econômica que na última campanha seus adversários mantiveram a figura de Lula quase que intacta. Atacavam a falta de experiência de Dilma, mas diziam que Lula tinha história. Antes da presidência, Lula não exerceu nenhum cargo político relevante, era especializado em campanhas, não em governos. E convenhamos, nesses 8 anos pior não ficamos, muito pelo contrário. 

3 comentários:

Fábio disse...

O The Guardian prova, com esse artigo cheio de clichês e raso, bem rasinho, que entende tanta da política brasileira quanto eu entendo da disputa pelas cadeiras do Parlamento britânico.

Chamar José Serra, ex-líder estudantil, ex-presidente da UNE, exilado pela ditadura, ex-ministro da saúde, idealizador dos genéricos, responsável pela quebra das patentes dos laboratórios americanos e pelo melhor programa de combate a Aids do mundo, de "Serra Palin", convenhamos, é muita, muita ignorânica. E ignorânica no sentido literal mesmo - falta de informação pura, nem acredito que seja má-fé.

Ademais, como canso de dizer, é muita ingenuidade acreditar que Dilma e o PT representam a "esquerda" (hahahahaha, com Renan, Sarney, Collor, Jader e Maluf? Tá bom então) e, por outro lado, que Serra e o PSDB representam a "direita". Lamento informar, mas nem o PT é de mais de esquerda nem o PSDB é de direita - nunca foi, aliás. Os dois são, NO MÁXIMO, de centro-esquerda, e ambos fizeram dois governos de centro-direita, tanto nos oito anos de FHC quanto nos oito anos de Lula. Simples assim.

Sinceramente? Acho que Dilma vai, sim, fazer um bom governo, pois as condições estão dadas depois de 16 anos de grandes avançõs econômicos, sociais e institucionais do país com FHC e Lula. Creio que será (e torço para que seja) uma grande presidente e, se der a lógica, deve ser candidata a reeleição em 2014. E reeleita, porque canditura do governo é sempre favorita a não ser que aconteça alguma tragédia.

Mas não dá para comparar o Lula de 2002 com a Dilma de 2010, não. Lula não tinha experiência administrativa, é verdade; mas já era, há pelo menos 20 anos, a principal liderança política de oposição no Brasil. Havia sido líder sindical, presidente do PT e candidato em TRÊS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS. Isso sem falar na candidatura ao governo de SP e na atividade parlamentar e como constituinte. Dilma não: começará como presidente. Nunca foi candidata a nada nem ocupou nenhum cargo executivo ou legislativo.

Lena Dib disse...

Fabio, acho Serra um político respeitável, com grande bagagem. e se formos pensar só em individuo, acredito até que ele seja a pessoa mais bem preparada para o cargo (se bem q fez um governinho pífio em sp - ainda mais pra quem queria ser presidente).
Mas a sua campanha no primeiro turno foi tola, e no segundo turno assumiu uma posição baixa que duvido que ele creia de fato, mas adotou essa postura como jogo político. Se fez de Sarah Pallin sem ser. Tolo mais uma vez.
Lula só tinha candidaturas em seu curriculo. Promessas sem provas, sem cargos assumidos. Mais q isso, o proprio PT ainda não tinha chegado lá, o q gerava "medo" dos mais conservadores. Depois de um governo saudável, com o país em boas condições não há o q temer (só o vice mesmo).
O q o The Gardian fala (tá, de forma rasa) é que os brasileiros optaram pelo governo de continuidade e resultados práticos. Algo como se há pão, Dilma, Lula, PT e Sarney podem ser o capeta, q a gente não liga.
Eles não exaltam a figura dela, pq vc tem razão, é figura fraca. Embora, eu acho q política ainda é feita mais em mesa de reunião, onde ela estava presente nos últimos anos, do q nos palanques em q Lula subiu para propagar.

Fábio disse...

Nossa, me assustei com esse "Fábio" do início da sua resposta, hahaha. Que formalidade! ;)

Concordo quando você diz que houve baixo nível da campanha no segundo turno, e eu, como militante de um partido que apoiou Serra e como seu eleitor, sempre critiquei essa baixaria. Ok.

Só não aceito esse argumento por si só, como se a campanha da Dilma também não tivesse apelado também. O nível foi péssimo nas eleições de 2010, sem dúvida - mas dos dois lados.

Isso para não falar de 2006, quando Lula e o PT usaram o mesmo terrorismo eleitoral que Serra e o PSDB usaram em 2010 - este ano, foi o aborto, e daquela vez, a suposta "privataria" tucana. Disseram que o Alckmin, se eleito, privatizaria o Banco do Brasil, a Petrobras, a Caixa Econômica Federal.. tudo delírio. Como foram delirantes as "acusações" de que Dilma legalizaria o aborto se eleita (eu até acharia ótimo e sei que, no fundo, ela é a favor, mas em nenhum momento a candidata disse que faria isso). Enfim, tudo igual. Sujeira pura, de um lado e de outro.

Sobre o lance do "se há pão, a gente opta pela continuidade", estamos super de acordo. É isso aí mesmo - aliás, sempre foi assim na história das eleições no mundo. Por isso é que eu sempre disse que a Dilma era favorita: porque candidatura de governo bem avaliado é sempre favorita. E, se as condições de vida da população melhoraram, aí é vitória quase garantida mesmo. Foi o caso.

Ah, e por último, concordo mais uma vez contigo quando diz que não há grandes riscos com Dilma, a não ser o Michel Temer. Meeeeeeedo! :)