quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Todas as mulheres do mundo

Ganhei de uma amiga querida o delicioso livro Bordados – quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi, autora de Persepolis. Apelidado de Sex and the City do Irã pela Time Out, o livro relata o cházinho dominical pós almoço entre a avó, tias e primas de Marjane – uma família liberal e de esquerda no Irã, mas que convive com as tradições e machismo – regado com um trico bem humorado sobre relacionamentos e sexualidade.

Ao ler o livro, sinto a deliciosa sensação de ser uma voyuer ouvindo as histórias daquelas mulheres, que vivem uma realidade tão distante da minha, em um país tão diferente, mas com os mesmos desejos. Descobri muito sobre o misterioso Irã que não estão nas notícias de jornal, nem nos discursos amedrontadores do ditador. Foi como entrar dentro da sala de estar, sentar junto a elas, e através de situações cotidianas, descobrir que todas nós temos muito em comum.

O livro é feminista, mas de forma sútil e bem humorada, longe do patrulhismo (as vezes rir é o melhor remédio). Além de ser o equivalente de tricotagem pra gente, a palavra Bordado, na gíria local, também tem o significado de “himenoplastia” - cirurgiã de reconstrução do hímen, discutido algumas vezes entre elas. Porque os desejos são os mesmos, mas as realidade e as tradições são por vezes mais cruéis do lado de lá.

Nessa conversa gostosa, elas concluem que falar da vida alheia e contar suas histórias é uma maneira de ventilar o coração. E só a gente sabe como ventila, não é – inclusive a linda amiga que me presenteou.

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