domingo, 16 de janeiro de 2011

Por que amo Amy

Amy é a rainha dos escandalos. Seus porres chegam antes de seu talento e algumas vezes quando declaro minha admiração pela musa junk, anorexica, cheia de vicios, tenho que me explicar.

Claro que amo Amy porque ela tem a melhor voz de uma geração. Mesmo outras lindas vozes que recuperaram o jazz, tem um tom mais suave, mais baixo – o qual eu também amo – mas só ela tem a voz forte e poderosa, como herdada de grandes divas tão loucas e sofredoras como ela – algo como Nina Simone, Ella Fitzgerald, Billie Holliday e outras damas black.

E só pela fato dela reviver e até apresentar a minha geração e aos mais novos o melhor do genuíno black – em seu aclamado álbum Back to Black – ela já merecia minha devoção. Não é pouca coisa – há anos produtores devem ter esperado encontrar uma mulher com voz de diva e composições carregadas de emoção. 

Acima de tudo, amo Amy porque ela é forte e corajosa o suficiente para expor suas dores, mágoas e defeitos em suas musicas, em cima do palco e em primeiras páginas de tablóides. Ela é genial – sabe disso – e poderia andar firme e poderosa, arrastando todo seu talento, mas a pobre é frágil como uma menina que mal se mantém em pé.

Em shows, Amy confessa que morreu cem vezes – na linda Back to Black -, depois conta que se deprime ao cantar em sequencia músicas que compôs em momentos tão tristes; bebe e cai no palco. Cada vez que isso acontece, eu tenho vontade dar a mão a ela, ajuda-la, ampara-la, como se fosse uma amiga que me faz sentir tanta compaixão. Vamos Amy, levante, precisamos de você. Tão dúbio ter a voz tão poderosa, forte e grave, ao mesmo tempo ser alguém tão frágil, que parece não resistir a nada. Amo Amy justamente porque também sou dúbia. 

Eu amo Amy porque ela tem toda a intensidade, tristeza, descompasso, exageros e explosões. Eu amo Amy porque não vou ao fundo do poço como ela em minhas fossas, não piro, nem alucino, mas dentro de minha sensatez, sanidade e boa postura, reside uma parte que explode, grita, geme, caí, levanta, morre várias vezes, não tem lucidez alguma, mas dores, amores, magoas e loucura. Amo Amy porque sou uma medíocre que só pode guardar esse lado obscuro, porque existem gênios como o de Amy, que gritam e morrem por mim, para que eu não vá ao fundo do poço e para viver um pouco dessa intensidade basta ouvi-la.

Ah, Amy, eu também go back to black, eu também já morri mil vezes, eu também sou má. Obrigada por existir em meio a tanta mediocridade que sobem aos palcos com sons mecanizados, efeitos pirotécnicos,  roupas esquisitas e tão pouco a dizer.

Minha geração não tem mais Nina Simone, Nirvana, Rolling Stones, Cazuza, Mutantes ou Raul, mas temos você. E ainda bem. Porque é lógico que precisamos de ídolos com personalidades exemplares como Bono Vox, mas tenho medo de uma geração que só tenha a chatice do U2, tão certinho e com mensagens positivas. Também precisamos de  ídolos de carne e osso, como Amy, para podermos escoar nossas loucuras, sem ser tão louca assim.

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