Nunca acreditei em sorte, azar, destino, acaso. A minha
sorte sou quem faço – com minhas escolhas, com meu próprio esforço. A sorte ou
a falta dela não existe. Ilusão ou pretensão.
Se nada for por acaso, quando meu pai ficou doente foi só
para me fazer entender que sou finita, fraca, e que a vida não está em minhas
mãos – mesmo com planilhas e fluxogramas. Ajoelhei, pedi a Deus um milagre – já
que a mim, nada caberia fazer. O milagre aconteceu. E graças a Deus, ele está
feliz e faceiro novamente.
Meses depois o acaso me mostra que pode me derrubar
novamente. Não, não adianta minha vontade, as coisas acontecem – o meu piá, o
meu magrelo, o meu amor iria mudar de cidade. Contra meu gosto e o pior, contra
seu próprio gosto. E volto a esperar um milagre. Só que sou atrevida, cheia de
razão, presunçosa – as coisas têm de ser do jeito que quero e no tempo que quero.
Daí, lembrei-me dos ensinamentos empoeirados que não ouvia
ou lia há muito, mas que foram parte de minha criação religiosa. Religião
oriental em que há mais silêncio do que palavras, mais sutilezas do que dogmas.
Você pode rezar por dias, pagar penitência, subir de joelhos
as escadas da Penha e nada. O mais difícil dos testes é o desapego. E eu tinha
dois testes – desapegar do Magrelo e da minha vontade de tê-lo por perto.
O meu apego se transformou em desespero. O desespero em grosserias,
arbitrariedades e consequentemente, brigas e decepções da parte dele. O amor engrossou
o caldo, ao invés de adoçá-lo. Porque amor não é apego, mas os dois sentimentos
andam grudados. O amor tem de querer o bem, não o seu querer. Mas quem
consegue?
Se a sorte está sempre lançada, queira eu ou não, que ela
conduza ao caminho que deve ser – mesmo que não o meu preferido. E relembrando
esses ensinamentos me acalmei. Pensando que tudo é aprendizado e não castigos. E
que eu deveria apoia-lo e só. Nada de definir o destino.
E não é que tudo começa – pouco a pouco - a ocorrer do jeito
que quero. Porque a parte final do ensinamento (e que não lembrei naquela hora)
é que a felicidade é como a água em um recipiente. Se você puxa pra você, ela
se afasta pelas beiradas. Se você a empurra, ela volta para você.
E só de lembrar isso vejo que nada é por acaso. Que o que a
vida quer é coragem. E que está – a duras penas – tentando me fazer entender
que tudo deve fluir, sem medo, sem culpa. Sabendo que sou o que me cabe ser –
finita.
Um comentário:
uhmm... creio que a sorte exista sim, não no sentido de sorte ou azar, mas no sentido de fluxo da vida. Estou no mesmo momento de aprendizado que você... sei que é difícil, mas é ao mesmo tempo libertador.
Adorei o textinho deste link e coloquei no meu mural para me lembrar que não, as coisas não sairão sempre como eu quero, e que essa pode sim ser a graça da vida. De qualquer forma, torço por vc(s)!!! :-)
http://nolimiar.wordpress.com/2011/02/22/o-reino-e-de-uma-crianca/
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