segunda-feira, 2 de abril de 2007

Apoio Matilde Ribeiro

Na última quarta-feira, acordei com a CBN repetindo inúmeras vezes e debatendo, ou melhor criticando, a declaração de Matilde Ribeiro, Ministra da Secretaria de Política da Promoção da Igualdade Racial.

BBC pergunta: E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?

Matilde responde: Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

A resposta da ministra gerou polêmica ao dizer que o negro que se insurge contra um branco tem uma atitude natural, e não racista. A afirmação foi criticada por alguns como Cony e Xexeu que acreditam que a ministra incentivou o racismo de negros contra brancos. E ainda diziam: "Logo ela que deve promover a igualdade, fala sobre a desigualdade".

A assessoria da ministra tentou se retratar e tudo mais, mas eu estou com ela. Vale dizer, que enquanto ela fez a declaração, deixou bem claro, que não incentivava o preconceito e discriminação de forma alguma.

Para se promover a igualdade é preciso enxergar onde há desigualdade. Por isso, não vale dizer que não temos racismo. Matilde enxerga que há de ambos os lados. Porém um lado tem a ação, o outro a reação. A reação é natural, não é racismo, e ela está certa. Por que afinal, não é o negro que tem o poder e com isso exclui o branco, mas o contrário. Além disso, os negros não açoitariam brancos se não tivessem sido açoitados. Afinal, eles não escolheram viver no Brasil, foram trazidos a força.

Aí os comentaristas disseram: "Mas não vivemos mais na escravidão, a realidade é outra".
É claro que os tempos mudaram, mas uma frase dessa só serve para fingir que tentativas de homicidios de africanos como aconteceu com os estudantes da UNB recentemente não existem, que os negros não apanham mais de policiais do que os brancos, e que são excluídos de boa parte dos lugares de brancos. Conte quantos negros tem em sua sala de aula, ou na gerencia de sua empresa, ou mesmo morando em seu prédio.

Lembro que quando eu era criança e tinha só uma ou duas coleguinhas negras, tinha certeza que vivia em um país de maioria branca. Mas eu estava errada.

Pra mim, dizer que a ministra incentivou o racismo, é o mesmo que criticar o feminismo ou movimentos GLBT por serem contra o "macho", como se fossem contra a "maioria". Não são contra a maioria, são contra a maioria econômica e política (assim como disse a Matilde). São contra quem está no comando, os açoitando e na contramão de seus direitos.

Fico contente que alguém que não feche os olhos para as desigualdades que existem hoje, seja nossa ministra para promover a igualdade em um futuro próximo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hmmmmm... Aí não dá. Adorei o post sobre a Elza aí em cima (eu também queria ser essa nêga!!!), mas não dá pra engolir o que disse a ministra. Acho que ela deveria ter sido afastada no cargo no ato, sem pensar. Não há nada, rigorosamente nada, que justifique tamanha barbaridade sair da boca de uma ministra de Estado. Além do mais, incentivar o racismo é crime previsto em lei. Ela deveria também ser devidamente processada, além de perder o emprego. Absurdo.

Mau Svartman disse...

Olá Lena! Vim à sua casa responder os comments que fizeste na minha =)

Quanto ao holocausto, eu, como judeu, tive a família quase extinta na guerra. Posso dizer que por pouco não nasci. Então lutei por muito tempo contra meu preconceito a respeito dos alemães, já que o mais fácil seria generalizar. A afirmação do meu post, portanto, serviu um pouco como voz interior, para eu me convencer de que não devo generalizar, nunca. (Esse nunca já foi uma generalização :P)

E esse é o meu problema com a afirmação da ministra. Ela lida com o assunto sem prever as idiossincrasias que nos caracterizam. Principalmente a nós, brasileiros. Sim, vivemos num país racista, num mundo racista, intolerante de todas as maneiras, mas ainda assim penso que o povão branco não estranha o povão negro. Não posso dizer o mesmo da elite, no entanto. Acho sim que em uma entrevista de emprego um branco escolherá um branco em detrimento do negro, um homem escolherá um homem em detrimento da mulher e vice-versa.

Mas isso vale para os menos esclarecidos. Eu, que me esforço para ser tolerante de todas as maneiras (coisa do espiritismo que me define), não acho que um negro teria o direito de me discriminar. Não acho justo. (continua)

Mau Svartman disse...

Quanto às cotas, você disse que acha "que cursinho adiantaria mto pouco. Pq mesmo assim o estudante pobre não teria igualdade de condições e oportunidades. Afinal, teria que trabalhar e estudar e já teria um deficit de estudo de seu histórico."

Aí eu justificaria dizendo que, se ele entrar na faculdade, terá de estudar e trabalhar do mesmo jeito. Aí, seria melhor que ao menos ele entrasse mais bem preparado na universidade, para não ficar atrás do resto da turma.

Agradeço a delicadeza das suas discordâncias, adoro debater em alto nível. beijão!