terça-feira, 8 de setembro de 2009

Porque rei é rei

Foto: Thais Polimeni

“Eu tenho tanto pra lhe falar...” – o Ginásio do Ibirapuera lotado cantava antes do esperado Rei entrar. Era de arrepiar. No show do dia 3 de setembro, um dos 9 em São Paulo em comemoração aos 50 anos de carreira de Roberto Carlos, a plateia era o que mais emocionava. Gritavam ao menor gesto dele – uma virada de pescoço, uma piscadela, ou quando ele escorregava a mão pelo microfone. Roberto pisa no palco e todos se levantam e aplaudem. Cheguei então a tardia conclusão que RC faz jus ao título de Rei.

Sempre o achei supervalorizado e considerava Chico, Tom Jobim e Caetano os ícones da música brasileira. Só que ícone é uma coisa, e leva em conta a criação artstica, mas ser Rei transcede a obra, tem a ver com a figura, solidez, carisma, e com uma relação quase maquiavélica com seus súditos.

Para ser Rei é preciso ser popular e Roberto é. As melodias convidam todos a cantar junto. As letras são simples, a ponto de qualquer um entender, se identificar e enviar a sua amada. Mas a simplicidade das letras não diminuem a profundidade dos sentimentos. Se ser brega é ser emotivo demais, ignorar a sobriedade, Roberto se assumiu assim e ganhou autenticidade, e de quebra carinho do seu público.

Para ser Rei é preciso ter sucesso perene e o Rei só é Rei porque não parou na Jovem Guarda. Ele soube envelhecer junto com seu público e chegou aos 50 anos de carreira com fôlego para arrastar multidões, lotar Maracanã e exigir a melhor equipe, e tocar com a OSESP. Mais que isso, ao menor comando, ele consegue fazer todo mundo cantar junto em shows disputadíssimos.

A perenidade só é possível quando se tem um vasto repertório. E como esse homem compôs! e como tem sucessos! Ele já foi gravado e regravado por artistas como: Gal, Elis, Betania, Nana Caymi, Chico, Nara Leão, Chiclete Banana, Ivete, Claudia Leite, Skank, Titãs, Barão Vermelho, e mais uma montanha. Todos súditos da Vossa Majestade.

Rei tem uma imagem a zelar e zela. Roberto se blinda, é recluso, dá raras entrevistas, não aparece em festas, e até foi ditatorial ao proibir uma biografia sua. Construiu uma imagem de homem perfeito, sem vícios, que vai à missa, é viuvo resignado, bom pai, não atrela sua imagem à política, e pouco aparece em campanhas publicitárias.

Mas apesar de construir características quase sobrehumanas, o Rei procura se identificar com seus súditos. No show, foi possível ver o carisma inquestionável que RC tem. Ele corteja sua plateia o tempo todo. Faz piadas ingênuas, conta um pouco de sua história, mostra simplicidade, toca sozinho voz e violão, apresenta seus músicos com intimidade, joga charme.

Rei tem de estar perto do seu povo e ele vai lá, mima, joga rosas, manda beijos, se coloca como igual. Fala de suas dores, como se fosse a dor de cotovelo de seu vizinho, pede que o público o ajude a cantar, diz que adora estar no palco, fala sobre a cidadezinha em que nasceu, os amigos de adolescncia que estão com ele até hoje. Dá uma de gente como a gente para viver uma história eterna de amor com seu público.

É por isso que Rei é Rei.

2 comentários:

Fábio disse...

Que texto lindo! E Rei é Rei. Ponto. Roberto "engole" Chico e Caetano, e eu também demorei anos para me dar conta disso. Só perde para o Tom mesmo, que é Deus. Mas Roberto é Rei! ;)

E até os reis são humanos e têm suas fraquezas e idiotices, né? O lance de proibir a biografia até hoje é de embrulhar o estômago. RC mandou mal, malzão. Mas é Rei e ser humano também.

Imagino que deve ter sido uma noite inesquecível, como foi a minha noite de 11 de julho no Maracanã. Isso é pra vida toda! :)

Thais Polimeni disse...

Olha só! Nao sabia que vc tb tinha ido, nêga!
Adorei a foto e os creditos!!! Brigadão!

Parabéns pelo blog... E pela viagem!!! hehehe.

Beijones, Mi! Good luck and enjoy!!!