quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A putinha e as gordinhas

Ontem, a Folha de S.Paulo revelou um campeonato extra-oficial chamado “rodeio das gordas” ocorrido durante o InterUnesp em Araraquara. Após o evento, um dos 'peões' criou uma comunidade no Orkut, que já contava com 66 membros. Depois da divulgação na rede social, cerca de 60 estudantes protestaram e exigiram à universidade medidas para que fosse instaurado um processo disciplinar.

Essa história é tão absurda e ao mesmo tempo tão comum que mal consigo expressar toda a minha revolta.
O que revolta é que estamos falando de uma elite intelectual. Não é mais a Uniban, mas uma faculdade pública respeitada. O que revolta é que não estamos falando de um caso de um retardado isolado, estamos falando de uma comunidade que conta com 66 membros pelo menos. O que me revolta é que o 'rodeio' não foi só um caso isolado causado pela bebedeira dos jogos universitários. Os rapazes não tem a mínima noção de que o que fizeram não é brincadeira, então ficaram orgulhosos de seus feitos e exibiram seus crimes em uma comunidade aberta no Orkut. Bonito, hein?

O que revolta é ouvir de uma colega de trabalho, ex-estudante da Unesp, que coisas desse tipo e muito piores (como espancamento de mulheres) sempre ocorreram no Interunesp e só agora que vai pra imprensa a galera se revolta. Ainda bem que alguém finalmente teve coragem de levar isso a imprensa, à reitoria, à delegacia, porque é assim que deveria ter sido tratado o caso de espancamento. Não sabe quem bateu? que se abra um inquérito. Ainda bem que alguém ainda fica indignado com agressões, porque talvez isso seja comum nas universidades, e certamente não é só na Unesp, mas não é normal - É crime.

O que revolta é que a Uniban rapidamente decidiu punir Geisy Arruda por usar roupas impróprias, e a Unesp ainda não se pronunciou sobre esse lamentável episódio. Espero que respondam e com uma punição que entenda a dimensão do ocorrido, porque não estamos falando de uma brincadeira inconsequente (brincadeiras inconsequentes de universitários já levaram ao assassinato de um calouro na Faculdade de Medicina da USP, lembra?), não estamos falando de bullying, estamos falando de maiores de idade responsáveis por seus atos que cometeram crimes de: injúria, dano moral, crime de ódio, e agressão física.

O que me revolta é que a gente logo pensa, eu bateria num cara desses, se ele chegasse perto querendo montar em mim. Daí a gente nota que como mulher não teria condições físicas de encarar um homem no tapa, muito menos um grupo covarde deles.

O que me revolta é ouvir dias antes da publicação na Folha, colegas mulheres discutindo quão absurdo era Geisy Arruda estar na capa da Sexy. As meninas diziam que ela era a ´putinha´da faculdade, como tem em todas as faculdades. O pior é que ela tem razão. Não é só Unesp e Uniban, todas as faculdades tem ´gordinhas´e ´putinhas´; garotas ridicularizadas e injuriadas por algo que não tem a ver com ninguém.

E considerando que Geisy ou qualquer 'putinha´de faculdade tenha se oferecido e dado para todos os machões da faculdade, qual a lei que pune isso? Nenhuma, porque é dela e só dela. Daí, um dia, os mesmo machões que comeram ou deixaram de comer a ´putinha´da faculdade quase lincham a garota. E tudo bem, um monte de mulher na Uniban (que adoraria dar tanto quanto a putinha da faculdade) apóia, afinal é só uma 'putinha'. No dia seguinte, esse mesmo machão que açangalhou a tal ´putinha' que ele comeu, ou deixou de comer, vai açanganhar a gordinha, porque afinal essa é o tipo de menina que ele não quer comer.

Talvez Geisy tão criticada por ser a ´burrinha´da Fazenda, a ´putinha´da Uniban, e a ´aproveitadora´ que saí na capa da Sexy, tenha sido a mártir para que brilhantes estudantes da Unesp passem a notar que o que acontece lá, e em outras faculdades, não é normal, mas condenável e criminoso.

Um comentário:

Bel disse...

Mi, eu concordo que não seja um simples caso de bullying. Mas também acho que tudo COMEÇA no bullying. Passamos a vida inteira achando que era "normal" crianças ridicularizarem e maltratarem colegas, e agora estas crianças cresceram e são estudantes universitários. Não adianta nada bullying virar caso de polícia se dentro de casa o pai der um tapinha nas costas do filho que bateu no coleguinha na escola... o buraco é mais embaixo.
Bjo.