sábado, 17 de março de 2012

Da porta de casa para dentro

Tem muito ainda o que mudar, leis a serem criadas que protejam as mulheres, que as promovam para uma situação de igualdade com os homens: legalização do aborto, salários iguais, cotas em partidos políticos e conselhos administrativos, e até criação de mais creches - um dos principais obstáculos para emancipação da mulher. Mas uma das batalhas mais difíceis é da porta de casa para dentro. 

Há quem pense que o feminismo é contra os homens, veio para extermina-los, escraviza-los, ou deixa-los submissos a soberania feminina. E alto lá, não é nada disso. O que o feminismo deseja e briga é por uma sociedade mais justa, igualitária – sem a soberania de um gênero. O feminismo não existe somente para dar voz às mulheres, mas também para abrir caminho para que homens se libertem da camisa de força da masculinidade tradicional. E para isso, tem muita mudança a acontecer da porta de casa para dentro, para que vivamos em uma sociedade mais justa, onde homens e mulheres, tenham múltiplas possibilidades de serem mais felizes e realizados, da forma como preferirem.

Em uma sociedade mais justa, ambos ganham igual, e ambos pagam igual. Nada de esperar que o namorado pague jantares, cinema, e depois tenha o peso nos ombros de ser o provedor da família. Esse peso tem de ser dividido. E por isso essa bandeira deveria ser de ambos, não?

Em uma sociedade mais justa, homens e mulheres são chefes de família e donos de casa. Convencionamos que uma mulher desempregada é dona de casa, um homem desempregado é vagabundo. Injusto, não? Isso só existe, porque ainda mantém a crença de que é o macho quem vai à caça para a sobrevivência, ele é o responsável pelo sustento da prole, e não ela.

Na verdade, a chefe de família sempre existiu. Afinal, quantas não são as mães solteiras, divorciadas que não vem um tostão do ex, ou viúvas desamparadas? O que está faltando existir em maior quantidade são “os donos de casa”. Porque em uma sociedade mais justa, o homem bacana não ajuda a mulher a cuidar dos filhos, ou da casa. Eles cuidam juntos! Não, não estamos querendo nos livrar das crianças e da faxina e nos vingar dos anos de barriga no fogão. Estamos querendo dividir esse peso em medidas iguais, porque a casa é dele também, os filhos são dele também.

Se ambos tem as mesmas capacidades motoras para trocar fraldas, então, por que raios não existe fraldário em banheiro masculino? Porque nunca pensaram que os pais podem ser responsáveis por trocar fraldas. Pobres coitados dos pais viúvos, solteiros, divorciados, ou que apenas vão dar um passeio no shopping com o bebê e não encontrarão um só fraldário que não esteja dentro do banheiro feminino. E só é assim porque convencionamos que o filho é responsabilidade dela, enquanto ele vai caçar. 

Numa sociedade mais justa ela também vai caçar. As vezes caça melhor que ele, as vezes não. E se um homem pode presidir uma empresa sem abrir mão de ser casado e pai de família, porque nós temos que fazer essa difícil escolha: carreira ou família? Por que a ambição deve ser uma característica só masculina?

Depois de uma serie de mulheres competentes – CEOs de empresa, chefe de policia, comando do STJ, FMI, chancelers, etc, as portas já estão mais abertas para quem mostrar seu potencial. Mas que homem, que esposo, cederia a mudar de cidade, estado ou país para que a mulher possa aceitar uma promoção, como tantas esposas fazem? Poucos.

Numa sociedade mais justa, eles dividem o peso de cuidar da casa e dos filhos, eles também passam a buscar criança na escola, levar ao médico, cuidar da febre, checar lição de casa, preparar o jantar, e aí, se tudo é dividido, sobra mais tempo para ela dar asas a sua ambição e chegar ao topo de qualquer lugar que ela desejar, mostrando capacidade para isso. Mas para isso a briga é menor no conselho deliberativo da empresas do que na sala de jantar. E essa é as vezes a briga mais difícil.  

Um comentário:

Bel disse...

Acho este assunto fundamental, mas confesso que tenho certa preguiça dele... é que tudo isso para mim parece tão óbvio, que me incomoda o fato de ainda termos que discutir sobre isto.

"Porque em uma sociedade mais justa, o homem bacana não ajuda a mulher a cuidar dos filhos, ou da casa. Eles cuidam juntos!

Eu sempre digo isso e fico muito incomodada quando ouço alguma amiga dizer que o marido é ótimo, porque "ajuda bastante em casa".
Mas é nestas horas que vejo o quanto as mulheres são responsáveis pela situações em que às vezes se encontram... e depois vem reclamar... Mas se
a gente diz isto tem que ouvir que não tem direito a opinião, afinal não somos casadas nem temos filhos, né?

Bem, se for para ter uma homem que "até ajuda", melhor não casar nem ter filhos mesmo ;-)