quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Não guardei nada

Hoje, pela manhã, eu ouvi uma música do Nando Reis mais ou menos assim "pra vc guardei o amor q nunca soube dar...." e por aí vai. Vc conhece essa música, né? Eu conheço essa música antes de te conhecer e sempre pensei que um dia encontraria alguém para doar esse amor guardado. Só que hoje me dei conta que eu não guardei porra nenhuma. Eu sempre fui muito a disposta a dar esse amor guardado. Mas aí, quando te encontrei, não peguei o embrulho no fundo da gaveta. O amor que te dou não é o que estava ali prontinho, guardado, esperando você chegar. O amor que eu te dou nunca existiu antes de você. Pq aprendi q amor não vem pronto. Ele foi sendo feito pra você, com você, olhando pra você, vivendo com você, gostando de você aos poucos e depois mto e mto. Pq eu nunca pensei que esse amor pudesse ser tão grande. Pq nunca pensei em ter também um amor meio imperfeito como o nosso. O amor guardado na gaveta era para alguém perfeito, sabe? 

O nosso amor nunca foi aquele amor sublime em que nos olhamos e tivemos certeza q era o amor esperado.Será que de alguém é? Vez ou outra, eu pensava se era isso mesmo que eu queria. Pq sempre tivemos tantas dificuldades: falta de grana, insucesso, ciúmes, depressão, distância, brigas. Sabe, algumas vezes eu quis não gostar de você e sair andando sem olhar para trás. Não porque você não me fizesse bem, você sempre fez e muito, mas porque eu queria algo simples - queria formar um casal que pudesse protagonizar propagandas alaranjadas do Itaú, em que me casaria em uma bicicleta com uma previdência privada garantida.

Eu olhava para os lados, mas nunca encontrei nada. Sempre sentia sua falta. Em todas as vezes que fiquei na dúvida (não por encontrar alguém mais interessante, mas simplesmente pq não queria tantos problemas), em todas elas tive a certeza, na sequência, de que queria você e todas as suas mazelas (e qualidades, é claro).  

Me disseram uma vez que a dúvida é o principio da fé. Não podemos acreditar em algo, se nunca tivermos duvidado daquilo. Seria uma fé cega, por conveniência apenas. Então, minha fé na gente é cada vez mais forte, pq depois de umas dúvidas aqui, outras acolá, eu sempre chego a conclusão q vc vale muito a pena. 

Esses dias com vc na minha casa são tão banais e rotineiros q tenho medo q um dia a gente se esqueça deles. Tudo é tão normal - apenas um casal que dorme e acorda juntos. Mas olha, eu nunca fui tão feliz. Eu quero registrar isso para não esquecer. E para vc saber q eu trocaria qualquer cena de cinema com uma mocinha rodopiando no ar em uma bela paisagem, qualquer lua de mel nas Ilhas Gregas ou Taiti, qualquer jantar à luz de velas preparado pelo Alex Atala, só para tomar café coado e comer carne moída com vc por essas semanas e além. 

Magrelo, não guardei nada para vc. Joguei o q tava guardado fora, para fazer esse amor com vc. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Meia um

Eu apertei o botão do interfone e virei-me para o Gusttavo com um sorriso de quem estava prestes a aprontar alguma molecagem ou abrir uma grande caixa de presente debaixo da árvore de Natal. Não iria sair correndo como na infância, ao apertar a campainha da vizinha, mas estava ansiosa e eufórica para poder responder à porteira a derradeira frase:
- Eu sou a nova moradora do 61.

Nesse fim de semana, eu repetia essa frase para os vizinhos e funcionários do prédio que encontrava no caminho, dando um aperto de mão em forma de sanduíche e expondo todos os dentes. Deixava escorrer pela boca cada palavra "eu-sou-a-nova-moradora-do-meia-um". Parecia um poema, um grito de independência, como se eu empunhasse uma espada dissesse "nova moradora do 61!". Tinha vontade de gritar "moradora do 61!" e correr com os braços abertos simulando um pássaro ou avião. Me continha, porque quando não se é mais criança, pode pegar mal entre os vizinhos.

A sexta, o sábado e domingo foram explosões em série, para cada primeira coisa que acontecia ali - no apartamento 61, a minha casa. Taí, outra expressão que derrete na boca: mi-nha-ca-sa!!! Pela primeira vez vi a vista do 61 com calma e suspiros. Dá até para ver o Parque e a Paulista. Eu morei a vida toda no primeiro andar e me acostumei a não ter vista. Eu que não gosto nem do cheiro de cigarro, fiquei com uma inveja do Gusttavo que ia a janela com pretexto de fumar. Quase pedi um trago, para ficar só eu, o cigarro e a brisa de verão - pelos minutos alongados que dura a chama.

Pela primeira vez que atendi ao interfone (Ahh, olha só como é o barulhinho do interfone do 61). E ao receber um amigo, dizia toda serelepe: aceita um café?! Ele riu. "Você estava doida para poder servir café".

Pela primeira vez fui ao supermercado perto da mi-nha-ca-sa! E descubro que é 24h, e que as senhoras que frequentam são muito gentis e simpáticas (ou carentes) e arrumam qualquer desculpa para puxar papo. Acho que vou adorar essas senhorinhas, nessa nova fase em que eu também vou mo-rar-so-zi-nha!! E um pouquinho de solidão, nunca pareceu cair tão bem.

Pela primeira vez, começo uma reforma de apartamento e compro revistas de decoração. Pela primeira vez, recebo o encanador. Pela primeira vez, posso escolher as cores da parede que eu quiser, como se fosse escolher esmaltes. Pela primeira vez, acordei, tomei banho, fiz café, pus a mesa e lavei louça - no Meu quarto, no Meu banheiro, na Minha cozinha. Pela primeira vez, tenho meu canto. Vou ficar sozinha, receber amigos, dar festas (para poucos, já que o 61 é muito pequeno e aconchegante), dar pela casa toda - vou fazer o que eu quiser e o que não quiser.

Mesmo sem rádio, Mp3, ou coisa que o valha, no 61, ouvia-se Tom Jobim durante todo o fim de semana ensolarado e inesquecível. E escrever isso aqui, faz com que eu possa reviver sempre esse sentimento único.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

No papel de pão

Desenhos delicados e frases geniais do Tumblr "Eu me chamo Antonio". Fuce aqui.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Adolescentes até quando? (ou por que a geração Y está infeliz?)

Nesse domingo, conversava com dois grandes amigos sobre a dor de crescer. Nós, aos quase 30 anos, ainda temos uma dificuldade enorme em bater asas e viver como adultos. Não queremos casar ainda. Até evitamos o assunto. Filhos: podemos falar sobre isso daqui oito anos? O futuro brilhante que havíamos prometido a nós mesmo parece demorar e duvidamos se virá. A dor parece maior para meus amigos, bem mais inflexíveis em seus sonhos do que eu. O único que havia saído da casa dos pais contava moedinhas para pagar o aluguel de uma república de trintões (república de trintões?). E o único satisfeito com a remuneração, estava descontente com as pressões do dia a dia e volta e meia, pensa em jogar tudo para o alto.

Procuramos o divã para tentar solucionar um ciclo de frustração, ansiedade, angústia e até depressão - causado por excessivas cobranças e altas expectativas. A vida não é tão precisa quanto as planilhas de Excel, e a ausência de controle nos causa pequenos surtos. Alguns mimos nos fizeram crer que o caminho seria mais fácil, e por isso, nos dá vontade constante de descartamos tudo o que não está de acordo com os nossos sonhos - empregos, chefes, namorados(as), cidade ou país. Pula-se de emprego em emprego, e pior, de casamento em casamento.

Não que eu seja contra divórcios e demissões. São libertadores. Mas será que essa efemeridade está correta? Não temos paciência para aprender ou superar dificuldades, especialmente as emocionais, e  nada nos garante que a próxima parada será melhor. As vezes, essa obsessão por tentar tornar a vida uma reta perfeita - tudo dentro de um cronograma, sem imprevistos - a transformou em uma pista de corrida de obstáculos. Não sabemos contorna-los (porque o caminho pode ser longo as vezes), então pulamos, mas em seguida está outro obstáculo, e mais outro, e mais outro (as vezes todos iguais).

No dia seguinte, li a coluna da Ruth Aquino na revista Época e que discutia a nova orientação de psicólogos americanos de que a adolescência só termina aos 25 anos. Ruth, hoje aos 50, mesmo sem o córtex pré-frontal totalmente desenvolvido, saiu de casa aos 21 anos e se virou - cheia de independência  responsabilidades e orgulho. Apesar das dificuldades, amadureceu. Com menos expectativas (o que não significa com menos sonhos), conseguiu ser menos frustrada [felicidade = expectativas - realidade]. Com meus pais não foi diferente. Aos 21, eram arrimo de família.

"Era preciso ter um emprego, não necessariamente o dos sonhos. Bastava que o salário fosse suficiente para não depender de pai e mãe.  Se o emprego se relacionasse aos estudos, que privilégio! Almejávamos múltiplos destinos, mas não havia tempo nem grana para experimentar primeiro e decidir depois" - dizia na coluna. E ainda:
"Prolongar a adolescência para além dos 18 anos é prolongar a angústia. O jovem não é tão despreparado quanto teme. Nem tão brilhante quanto gostaria".

"Adolescentes até quando? - Ruth de Aquino
Why Generation Y are unhappy ? 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Perfeição


Camila desligou o telefone, apática. Alinhou-o com o porta-guardanapos sobre a mesa e avisou que eles vinham mesmo. Era apenas um convite educado, mas haviam aceitado. Chegavam em vinte minutos. Silêncio instalado. “Se vocês não gostam deles, porque convidaram?”, indaguei inocente. “Não é isso. Não é que a gente não goste deles. A gente adora os dois e o problema é esse: não há ninguém que desgoste daqueles lá. Eles são perfeitos”. Suspiro coletivo.

Eram bonitos, ambos. E não havia intervenção do homem ali. Não eram neuróticos por academia e termogênicos, acordavam assim, lindos, todas as manhãs desde que nasceram e ponto. Ana fazia lá uma ioga duas vezes por semana só para relaxar. Não se submetia a regime, nunca precisou. Dante só fazia caminhadas com o cachorro educadíssimo na pracinha do bairro nobre onde moravam.

Tentei consolar a roda, acusando o casal de futilidade. Ledo engano. Haviam estudado nas melhores universidades, falavam de livros que ninguém tinha lido, sabiam conjugar verbos, eram profissionais requisitados e bem pagos em suas carreiras e ainda encontravam tempo para ajudar ONGs, falavam mais de um idioma, eram espiritualizados, comiam arroz integral sem fazer cara feia.

Não havia como desmoralizá-los, perfeitos e fim. Vestiam-se bem, não ficavam sem grana, não perdiam a hora, nem a paciência. Não eram estéreis, nem frígidos, nem arrogantes, nem mesquinhos, não furavam fila. Não havia um tique, uma mania que fosse, um fio fora do lugar. Não eram chatos, pelo contrario, muito bem-humorados. Desfiavam piada cult, de humor negro, anedota ídiche, até causos de beira de estrada. Não podiam ser humanos, gente. Uma graça!

Por fim, chegaram. Perfeitos. Seria compreensível que ambos fossem tão prendados separados, mas juntarem as perfeições parecia ofensa grave. Vê-los desfilando juntos realmente feria o brio alheio. Sua simetria evidenciava nossa vasta variedade de imperfeições. Éramos vasos tortos, expostos, todos enfileirados. Os dois, portanto, carregavam o defeito humano mais grave: eram inacessíveis, inalcançáveis e caros, na prateleira acima. A perfeição é mesmo um dom solitário. Ponto nosso que temos companhia constante para a imperfeição.

Texto que o querido e talentoso Diego Engenho escreveu inspirado em mim e no Magrelo - e bem, não somos o casal perfeito, mas ao menos não somos um casal solitário. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

No mundo da Lua


Dormi com um olho fechado e outro no relógio para não perder o horário. Tinha uma consulta marcada pela manhã e esperei mais de um mês para conseguir um espaço na disputada agenda. E bem, eu sempre perco o horário.

Vesti-me rápido, nem tomei café e chamei o táxi. O aplicativo indica dois minutos, mas o taxista leva dez. Humpf. O taxista faz um caminho péssimo. Trânsito. Me irrito. Embora, saiba que a culpa não é do taxista, mas minha. Eu que não indiquei o melhor caminho e que sempre estou atrasada. Será que eu peguei o endereço correto? Sou a melhor do mundo em anotar o endereço errado. Chegamos. Vou pagar o táxi. Abro a bolsa e...esqueci a carteira! Só isso. Esqueci a carteira! Não tenho como pagar o táxi, não posso entrar no prédio do consultório do médico, porque sequer estou com meu documento, sem falar da carteirinha do convênio. E ainda tem o taxista, ali na minha frente, que não me fará a corrida de graça. Peço para o taxista me levar de volta para casa e perco a consulta, além de gastar o dobro à toa. 

Uma semana depois, o dr. Pablo me atende. Ninguém vai ao neurologista por rotina. O que te trouxe aqui? Doutor, acho que eu sofro de DDA – Distúrbio de Deficit de Atenção (que só há pouco descobri que é diferente de TDAH - a tal Hiperatividade). 

Mostro um formulário dado por minha terapeuta, a primeira pessoa a notar. Apresento sete dentre nove sintomas que diagnosticam o transtorno. Sinal vermelho. Como se fosse preciso aquele papel. Contasse ao doutor a saga que foi para mim chegar ao consultório a menos de 10 km da minha casa, sem me atrasar, sem perder nada dessa vez, ele entenderia. Talvez só ele e ninguém mais compreendesse, que por mais que eu tivesse tentado muito, e quisesse tanto estar ali para resolver esse problema logo, eu não consigo sair do Mundo da Lua.

As coisas que são automáticas e simples para 96% da população não são, nem nunca foram, naturais para mim. Por mais que eu tivesse consideração, preocupação, vontade, as vezes as coisas não funcionam. Eu seria capaz de perder minha única chance de encontrar o Brad Pitt ou Rodrigo Santoro, por algo que sequer consigo explicar.

Naquela semana, ainda esqueci minha bolsa e voltei para busca-la depois de 10 minutos. Só neste ano, perdi o celular duas vezes, além de um cartão de crédito, reuniões de trabalho (logo eu tão workaholic), aulas do curso que eu adorava, consultas médicas, horário do trem para Barcelona, prazos para pagar contas, horário para encontrar os amigos e namorado, e a chave do locker no hotel. Mesmo tendo memória de freak show para lembrar histórias, detalhes, nomes e fisionomias; mesmo decorando tabuada e capitais desde os seis anos, e armazenando todas as informações sobre a empresa, os livros, as histórias de amigos e amigos de amigos, sou capaz de esquecer essas coisas banais. 
  
Veja, doutor, não é como a música dos Mutantes “Ando meio desligado”, que os amigos sempre disseram ser a minha música. Nem é paixão, como os familiares sempre brincaram (e eu detestava ouvir isso durante a pré adolescência). O problema é que eu não “Tenho andado distraído” – é uma constante, e mais forte do que eu. Pode ainda parecer desculpa, mas para mim, o diagnóstico do doutor Pablo soou como um alívio. É bom saber que não precisa ser assim e que não é, nem nunca foi, falta de esforço.

Para saber mais: Espaço Aberto Saúde - Globo News
Entrevista com psiquiatra Paulo Matos sobre DDA e TDAH

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Desapego



Nunca acreditei em sorte, azar, destino, acaso. A minha sorte sou quem faço – com minhas escolhas, com meu próprio esforço. A sorte ou a falta dela não existe. Ilusão ou pretensão.
Se nada for por acaso, quando meu pai ficou doente foi só para me fazer entender que sou finita, fraca, e que a vida não está em minhas mãos – mesmo com planilhas e fluxogramas. Ajoelhei, pedi a Deus um milagre – já que a mim, nada caberia fazer. O milagre aconteceu. E graças a Deus, ele está feliz e faceiro novamente.  

Meses depois o acaso me mostra que pode me derrubar novamente. Não, não adianta minha vontade, as coisas acontecem – o meu piá, o meu magrelo, o meu amor iria mudar de cidade. Contra meu gosto e o pior, contra seu próprio gosto. E volto a esperar um milagre. Só que sou atrevida, cheia de razão, presunçosa – as coisas têm de ser do jeito que quero e no tempo que quero.
Daí, lembrei-me dos ensinamentos empoeirados que não ouvia ou lia há muito, mas que foram parte de minha criação religiosa. Religião oriental em que há mais silêncio do que palavras, mais sutilezas do que dogmas.

Você pode rezar por dias, pagar penitência, subir de joelhos as escadas da Penha e nada. O mais difícil dos testes é o desapego. E eu tinha dois testes – desapegar do Magrelo e da minha vontade de tê-lo por perto.
O meu apego se transformou em desespero. O desespero em grosserias, arbitrariedades e consequentemente, brigas e decepções da parte dele. O amor engrossou o caldo, ao invés de adoçá-lo. Porque amor não é apego, mas os dois sentimentos andam grudados. O amor tem de querer o bem, não o seu querer. Mas quem consegue?

Se a sorte está sempre lançada, queira eu ou não, que ela conduza ao caminho que deve ser – mesmo que não o meu preferido. E relembrando esses ensinamentos me acalmei. Pensando que tudo é aprendizado e não castigos. E que eu deveria apoia-lo e só. Nada de definir o destino.

E não é que tudo começa – pouco a pouco - a ocorrer do jeito que quero. Porque a parte final do ensinamento (e que não lembrei naquela hora) é que a felicidade é como a água em um recipiente. Se você puxa pra você, ela se afasta pelas beiradas. Se você a empurra, ela volta para você.
E só de lembrar isso vejo que nada é por acaso. Que o que a vida quer é coragem. E que está – a duras penas – tentando me fazer entender que tudo deve fluir, sem medo, sem culpa. Sabendo que sou o que me cabe ser – finita. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

E se eu quiser falar com Deus

Na beira da cama, no auge do ceticismo, admirava, ou melhor, invejava a fé de cada um que entrava no quarto para fazer a sua oração ao meu pai. Tudo o que eu queria era acreditar. Era acreditar que eu não sou impotente, como me sinto. Era acreditar que ele vai ficar bem. Que Deus ajuda quem confia os problemas em suas benevolentes mãos. Era acreditar que pelas minhas mãos poderia chegar a salvação, como eles ali acreditavam.

Talvez fossem melhores do que eu por isso, talvez muito piores do que eu por outros tantos motivos. Mas eles tinham a força que só a confiança e a fé podem oferecer quando não temos saída.

Eu também queria falar com Deus, como eles falavam, e pedir para Ele nos proteger, abençoar, e nos livrar de todo mal. Mas eu queria ainda acreditar que Ele iria me ouvir. E como falar com Ele agora, depois de tanto tempo? Seria como um amigo que só lhe procurasse para pedir dinheiro emprestado, depois de anos sem contato.   

Eu queria lembrar o porquê fiquei tanto tempo sem falar com Ele. Por que quis tanto ser cética se eu já havia sido das mais devotas ovelhinhas? Se eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria haver o dia em que toda a ciência e toda razão não iriam resolver, por quê? Se eu sabia que ninguém vive sem ao menos ter um dia de dor ou angustia, como a que aperta meu peito agora, por quê?

Pra mim, os crentes eram arrogantes (não me refiro aos evangélicos, mas a todos os que creem) e muitas vezes são ao acreditarem serem mais fortes ou mais abençoados do que os outros. Mas o ceticismo faz de mim tão arrogante quanto, por me achar mais racional e lúcida do que os outros – ah, os ingênuos enganados pelo ópio das religiões. Mas tem uma hora na vida que tudo o que você inveja são as pessoas que sabem ajoelhar e admitir que são (somos) frágeis, que somos tão pouco.    

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Comida é amor



Por não sermos irmãos de fato, eu não poderia sentir o que ele sentia. Mas, por ser o irmão que eu gostaria de ter tido, eu queria poder estancar, evitar ou minimizar a dor que ele sentia. Mas não podia. Ninguém podia.

Eu sabia que devia estar presente, mas não sabia o que dizer naquela hora. Eu queria abraça-lo, mas não estávamos acostumados a isso e poderia causar estranhamento. E então, eu fiz a única coisa que eu sabia fazer, e aquilo que a pessoa mais generosa que conheço, minha mãe, fez a vida toda: comida.

Preparei com capricho uma lasanha bolonhesa, minha especialidade (única por sinal). Era muito pouco. Lasanha não cura nem frieira, quanto mais uma ferida tão profunda, mas era meu jeito de aquecer, dar apetite, cuidar. E cuidado é amor. Comida bem feitinha, na hora, e só para você, é amor. Ao menos, foi esse o jeito que aprendi a dar e receber amor. 

sábado, 17 de março de 2012

Da porta de casa para dentro

Tem muito ainda o que mudar, leis a serem criadas que protejam as mulheres, que as promovam para uma situação de igualdade com os homens: legalização do aborto, salários iguais, cotas em partidos políticos e conselhos administrativos, e até criação de mais creches - um dos principais obstáculos para emancipação da mulher. Mas uma das batalhas mais difíceis é da porta de casa para dentro. 

Há quem pense que o feminismo é contra os homens, veio para extermina-los, escraviza-los, ou deixa-los submissos a soberania feminina. E alto lá, não é nada disso. O que o feminismo deseja e briga é por uma sociedade mais justa, igualitária – sem a soberania de um gênero. O feminismo não existe somente para dar voz às mulheres, mas também para abrir caminho para que homens se libertem da camisa de força da masculinidade tradicional. E para isso, tem muita mudança a acontecer da porta de casa para dentro, para que vivamos em uma sociedade mais justa, onde homens e mulheres, tenham múltiplas possibilidades de serem mais felizes e realizados, da forma como preferirem.

Em uma sociedade mais justa, ambos ganham igual, e ambos pagam igual. Nada de esperar que o namorado pague jantares, cinema, e depois tenha o peso nos ombros de ser o provedor da família. Esse peso tem de ser dividido. E por isso essa bandeira deveria ser de ambos, não?

Em uma sociedade mais justa, homens e mulheres são chefes de família e donos de casa. Convencionamos que uma mulher desempregada é dona de casa, um homem desempregado é vagabundo. Injusto, não? Isso só existe, porque ainda mantém a crença de que é o macho quem vai à caça para a sobrevivência, ele é o responsável pelo sustento da prole, e não ela.

Na verdade, a chefe de família sempre existiu. Afinal, quantas não são as mães solteiras, divorciadas que não vem um tostão do ex, ou viúvas desamparadas? O que está faltando existir em maior quantidade são “os donos de casa”. Porque em uma sociedade mais justa, o homem bacana não ajuda a mulher a cuidar dos filhos, ou da casa. Eles cuidam juntos! Não, não estamos querendo nos livrar das crianças e da faxina e nos vingar dos anos de barriga no fogão. Estamos querendo dividir esse peso em medidas iguais, porque a casa é dele também, os filhos são dele também.

Se ambos tem as mesmas capacidades motoras para trocar fraldas, então, por que raios não existe fraldário em banheiro masculino? Porque nunca pensaram que os pais podem ser responsáveis por trocar fraldas. Pobres coitados dos pais viúvos, solteiros, divorciados, ou que apenas vão dar um passeio no shopping com o bebê e não encontrarão um só fraldário que não esteja dentro do banheiro feminino. E só é assim porque convencionamos que o filho é responsabilidade dela, enquanto ele vai caçar. 

Numa sociedade mais justa ela também vai caçar. As vezes caça melhor que ele, as vezes não. E se um homem pode presidir uma empresa sem abrir mão de ser casado e pai de família, porque nós temos que fazer essa difícil escolha: carreira ou família? Por que a ambição deve ser uma característica só masculina?

Depois de uma serie de mulheres competentes – CEOs de empresa, chefe de policia, comando do STJ, FMI, chancelers, etc, as portas já estão mais abertas para quem mostrar seu potencial. Mas que homem, que esposo, cederia a mudar de cidade, estado ou país para que a mulher possa aceitar uma promoção, como tantas esposas fazem? Poucos.

Numa sociedade mais justa, eles dividem o peso de cuidar da casa e dos filhos, eles também passam a buscar criança na escola, levar ao médico, cuidar da febre, checar lição de casa, preparar o jantar, e aí, se tudo é dividido, sobra mais tempo para ela dar asas a sua ambição e chegar ao topo de qualquer lugar que ela desejar, mostrando capacidade para isso. Mas para isso a briga é menor no conselho deliberativo da empresas do que na sala de jantar. E essa é as vezes a briga mais difícil.  

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

E foi então que eu descobri


Uma colega bateu o carro. Coisa à toa, sem danos a ela, e apenas uns arranhões de leve na lataria. Mas é sempre aquela situação desagradável. Essa situação simples e cotidiana simbolizou o fim de seu casamento. Justo naquela hora, quando se tem vontade de ligar para alguém, que te oriente, que te socorra, ou ao menos que te escute e deixe você despejar sua irritação, pois justo naquela hora ela não ligou para o marido. Ligou para o amante. Pimba. Deu-se conta que o amante já era muito mais que seu parceiro de cama, era seu amparo, o primeiro grito que lhe vem à boca, tal qual uma criança pediria a mãe de imediato quando tropeça.

Dias atrás fui assaltada na porta de casa. Mal se configura um assalto já que os pivetes não estavam armados e eu não tinha dinheiro. Nada grave, além do susto. E pimba, liguei para ele. Contei para ele o acontecido e ao desligar, lembrei da história dessa colega e conclui que bem, ele já era muito para mim.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Não percamos o romantismo

“Não percamos o romantismo” foi o comentário da Bel no último post em que eu falava sobre o casamento muito feliz da minha irmã. De fato, isso é animador. A Drica me escreveu contando que estava feliz porque o marido está contente por ter visitado um estádio de futebol em Milão na lua de mel. A paixão é dele, mas ela fica feliz ao vê-lo alegre e isso é amor puro. E se o amor existe, um dia há de chegar. Vale repetir como mantra para não amargar.

Mas sabe, Bel, está difícil não amargar. Eu supero, não sem tristeza, o fim de um amor, paixão, namoro, ou algo do gênero. Consigo manter a sensatez e principalmente a esperança no futuro. De fato, eu acredito que os bons momentos chegam a compensar os maus. E que viver um amor é algo tão sublime que vale o risco e até mesmos as dores causadas por isso. A gente chora, pode até perder a crença no amor eterno, mas ainda assim acredita que há amor, ao menos, que houve. Acredito que as tristezas têm fim e que depois de um tempo, a dor perde força e passamos a nos lembrar daquele momento sem pesar.

Mas o que me amarga não é o fim de um amor, mas a falta do amor. São os anos passando, indo a bares charmosos ou restaurantes gostosos com um par interessante e interessado, que te envaidece em elogios. Eu ali olhando para ele e pensando em silencio “seja sincero e goste de mim, por favor” e sem mesmo estar apaixonada, mas apontando mentalmente “eu seria capaz de amar esse homem” – ao enumerar qualidades do moço que eu teimo em buscar.

E assim sigo em situações repetitivas, sentando a mesa com esperança, ouvindo conversa mole, já sabendo como a história tende a terminar, com um último beijo frio após poucas semanas, ele nem parecendo notar meu bom papo, a sensação de que ele não vai mais aparecer, e sem ao menos saber se de fato quero que ele apareça trazendo consigo aquela incomoda secura, a falta das palavras que quero ouvir, e gestos pensados para agradar, mas só por pouco tempo. O que me amarga não são os fins dos amores. Esses fazem tocar na mente músicas romanticas, esboçar poesias depressivas, me fazem sentir uma leva de emoções. Mas as promessas que não acontecem, os rapazes frios que não parecem querer que aconteçam, e que por eles mesmos, nem merecem acontecer, esses parecem que aos poucos me secam e me deixam melancolica. Esses não amores é que me matam. 

retomando...

Não postava há muito tempo. Por falta de tempo, de assunto, de vontade mesmo por achar narcisista demais ter um blog pessoal. Daí, postei mais para deixar um registro para que eu pudesse ler mais tarde, e o Fabio e a Bel logo comentam e me animarem a voltar a postar qualquer bobagem. Nem que seja para organizar as ideias, continuo a postar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Minha princesa


Talvez a coisa mais invejável que eu tenha nessa vida seja a cumplicidade com minha irmã. Um elo forte, um amor enorme que me deixaram com vários nós na garganta nesse fim de semana.

Ela era a boneca mais bonita que eu já tinha visto quando a vi chegando no colo da minha mãe e ontem, novamente, ela parecia uma boneca de porcelana. Tão branquinha, linda, apaixonada, segura e radiante. Fiquei tentando lembrar quando ela deixou de ser a menininha que ficava escondida de todos atrás de mim, me puxando pela barra da camiseta, falando em tom inaudível para que somente eu pudesse ser sua voz, para se tornar a mulher que anda sempre à frente, puxando-me pela mão, pisando firme no chão e que invejavelmente, sabe tudo o que quer e o que não quer.

Ontem, ela estava assim, plena. Solta na pista de dança como nunca tinha visto. E eu ficava ali ao redor dela, quieta da forma que nunca sou. Queria vê-la brilhar. Queria que ela soubesse que eu estava ao lado dela. Queria capturar aquele momento dela. E queria  que meu olhar pudesse abençoar a felicidade dela para sempre.

Hoje, acordei com o telefone tocando e cama ao lado da minha vazia. Torcia para que fosse ela, para fofocar sobre a festa de casamento, mas não era. Não via a hora de ligar para ela em sua nova casa, mas sabia que seria inconveniente. Até que ela finalmente ligou e meu mundo ficou completo.

É muito especial ver um casal como a Drica e o Thiaguinho. Eles me fazem ter fé no amor. Ao longo dos anos de namoro, ele já fez dela alguém visivelmente melhor, mais tolerante, mais doce, mais feliz. Um casal de lealdade e afinidade ímpar, que depois de seis anos se casaram simplesmente por amor e com olhos apaixonadíssimos. Eles mostram pra mim todos os dias, que o cotidiano cinza também tem toques de contos de fadas e me emociona ver que é a minha pequena princesinha quem protagoniza a história.

sábado, 18 de junho de 2011

Amor em tempos de cólera

E no meio da fumaça, pancadaria e toda a confusão gerada por vandalos apaixonados por hoquei no gelo, havia um casal não menos apaixonado se beijando. "O momento" tornou-se celébre pela velocidade como tudo se espalha na internet e graças ao acaso e astucia do fotógrafo Rich Lam, que cobria o motim em Vancouver.

Vi a foto no site do Globo Esporte junto a matéria sobre a confusão, que resultou em 150 feridos e 100 presos, após a derrota de Boston Bruins na final da liga NHL. A principio, a foto sobre o assunto sério me causou gargalhadas. Pensei que fosse uma encenação ou montagem que desatentamente teria ido para os jornais. Depois, imaginei a cena do jovem casal com desejo tão voraz a ponto de ir ao chão aos beijos,  esquecer a confusão e nem notarem que foram fotografados. Mas não foi nada disso. O casal já foi identificado. Os namorados Scott Jones e Alexandra Thomas assistiam ao jogo e durante o motim, a garota foi ferida e caiu ao chão. O namorado aproximou-se para conforta-la e a beijou. Agora a foto não só faz sentido como ficou ainda mais bonita.


O fotografo diz não ter notado o casal, mas duas pessoas caidas ao chão. E sem querer registrou o momento singular e inesperado e suas fotos de incidente que estampariam apenas as primeiras páginas de jornais locais, tornaram-se frisson mundial.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amor em tempos de dieta

Ele – posso te chamar para tomar um drink?
Ela – hmm, não bebo. (um copo de cerveja equivale a um pãozinho francês – pensou consigo)
Ele – Então, posso te chamar para jantar? Jantar você janta, né?
Ela – Tampouco. A noite é só um shake.

domingo, 12 de junho de 2011

Eu, ele e um elefante

Estávamos eu, ele e um elefante sentados a mesa de um bar. Todos calados. Nenhum dos três sob efeito de alucinógenos, nem mesmo álcool. Mas nós podiamos notar claramente que havia um elefante sentado à mesa conosco.
Podiamos falar sobre tudo – aliás, ele fala sobre tudo o que eu gosto, tudo o que eu entendo. Só não poderíamos falar sobre uma coisa: o elefante sentado conosco a mesa – regra velada. E passamos uma hora ali – eu, ele, a mesa quadrada entre nós sob uma jarra de suco de laranja azedo e a desconfortável e gigantesca companhia do elefante calado.
Fomos embora cada um para seu lado. Não vi para onde o elefante foi, mas acho que ele estará sempre conosco.

sábado, 14 de maio de 2011

A melhor lição de amor

Meu pai veio para se sentar a mesa conosco no domingo. Não é mais a primeira vez, mas é sempre especial. Nem tanto por estar perto, já que poderia estar comigo qualquer outro dia, mas por ver minha mãe, minha generosa guerreira, dando a maior lição de amor que poderia, de forma silenciosa.

A dona Bete é falante, expressa seu carinho com gestos largos, comidas caprichadas e palavras açucaradas em bom tom. Tem pitacos, lições e conselhos para tudo. Mas não se dá conta que a maior lição que me deu foi o perdão ao meu pai, foi aceitá-lo em nossa mesa, toda vez que prepara bolo de carne ou feijoada, os favoritos dele (alias, ele só come feijoada se ela fizer).

Eles se separaram há mais de 10 anos com feridas enormes nela. Achei que nunca cicatrizariam. Mas o tempo foi passando e a raiva diluiu. O que sobrou foi o que sempre existiu: o amor entre eles. Com uma separação em casa, eu deixei de sonhar com amores eternos de filmes e contos de fadas. Só que ao lado deles, passei a acreditar num outro tipo de amor para toda vida, de pessoas que não sabem viver sem o outro, mas não precisam dividir a mesma cama.

Perdoar é a maior prova de amor que alguém pode dar, pelo menos, é a mais dificil. E o perdão dela foi generoso com ele, com ela, e comigo. Eu não lembro ao certo quando foi isso, porque foi aos poucos, mas nos tornamos uma família feliz e harmoniosa. Talvez a mais feliz e harmoniosa que possa existir.

As portas foram se abrindo, e hoje, meu pai voltou a abrir a geladeira de casa sem cerimônia. Sua presença já virou tão rotineira que ele traz até o jornal aos domingos pra ler comigo, enquanto minha mãe cozinha. Anda pela casa reclamando da bagunça, roubando uma fruta, mexendo no controle da TV. Não é mais preciso palavras pra dizer que ele é bem-vindo. O silêncio, os resmungos, a bagunça confessa nossa intimidade. E nossa intimidade evidência que ali vive uma família feliz, sem mágoas, com todas as feridas já expostas e cicatrizadas.

Meu pai e minha mãe vivem hoje (cada um em uma casa) como vivem os casais que passaram dos 60 - como dois amigos resmungões, mas que não vivem longe um do outro. Ele leva ela para fazer um exame, ela marca médico para ele, se preocupam um com outro. Acho mesmo que se amam. Salvaram o que funcionava - a amizade, o carinho, o cuidado.

Parece coisa de religioso, mas acho que a salvação está no perdão. Não no de Deus - que eu não quero esperar pelo dele - mas no nosso - no coração limpo, que não tem lugar para amarguras.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Rápido como miojo


Peguei daqui.

Para por fim à indecisão


Uma das verdades da vida resumida em um simples quadrinho. Achei genial.