segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

O meu pai postiço

Como já falei aqui, estou trabalhando em um projeto experimental sobre pais homossexuais. O tema me desperta grande interesse pela pequena abordagem que tem e pela grande quantidade de interrogações que desperta. Cada vez que converso com amigos sobre o tema surgem mais e mais interrogações. Embora, em conversas informais eu defenda com firmeza o lado dos pais homossexuais, as dúvidas são muitas para mim também e prefiro terminar o assunto dizendo que com o trabalho finalizado ao longo do ano a conversa pode ser concluida, ou pelo menos, mais proveitosa, pois terei visto muitos casos reais.

Sábado, um amigo me disse que se perguntassemos para um órfão de dez anos se gostaria de ser adotado por um casal gay, este garoto recusaria. Realmente, é muito visivel a homofobia que existe nessa idade. Mas, não sei se ele preferiria ser órfão, uma dúvida a tirar.

Bem, então eu respondo por mim. Eu tenho um pai gay. Não é o mesmo caso que vou discutir no meu trabalho, porque fui criada em uma casa com meu pai e minha mãe. Mas, a verdade é que meu maior espelho sempre foi o meu tio. Foi com ele que aprendi o amor incondicional, a compreensão, o altruismo, a fé, e me inspirou o gosto musical. Foi dele que tomei as piores broncas, é ele quem me faz calar só no olhar, que sentou algumas vezes para conversar comigo até me fazer chorar e extrai o que tivesse dentro de mim.

Ele sempre foi (ainda é) a figura paternalista de minha casa. Ele quem centra tudo e faz a familia se reunir pontualmente para almoçar aos domingos. E cada domingo tem um sabor especial ao lado dele. O sabor da certeza que ele estará lá, trazendo uma baguete debaixo do braço, reclamando de qualquer coisa, mas com a certeza de que ele estará lá porque somos (eu e a minha irmã) o que ele tem de mais importante.

Na infancia, era divertido sair pra comprar balas, roubar bombons da caixa que ele deixava escondida, mas bem baixinho pra eu pegar, esperá-lo pro jantar. Na adolescencia, ele quem me buscava na balada, quem ficava com ciúmes dos namorados, e todas as coisas de pai.

Aprendi a chamá-lo de pai. Na escola, quando desenhava minha familia, desenhava ele. Se um dia eu me casar, é com ele que vou entrar na igreja. Ele é quem mais tem ciúmes de mim, quem me dá conselhos, foi o primeiro a me ligar para dizer que passei no vestibular, ele é sempre o primeiro a vibrar, a me socorrer, a me chacoalhar.

E deixo claro, que esse amor tão grande pelo meu tio/pai não diminui em nada o que eu sinto pelo meu pai verdadeiro. Mas, meu pai vai ser o meu menino sorridente, o meu Peter Pan, que me ama muito, me faz muito feliz, mas que pede ajuda para crescer, que precisa de cuidado. O meu tio, não. Meu tio é o meu exemplo de homem forte e firme.

Ele nunca precisou falar nada, mas todos conseguem notar qual é a sua opção sexual, e todos que o conhecem (gostando ou não dele) sabem que isso não faz a menor diferença. Todos os respeitam muito, pois ele sabe impor esse respeito, sempre muito sério, elegante, respeitoso, educado e generoso com todos, sem deixar espaço para brincadeiras e ofensas.

Acho pena por coisas que ele já teve de ouvir calado e que me fazem ter vontade de gritar contra essa discriminação. Uma piada que as vezes chega por e-mail ou em um grupo de pessoas, ou a mãe de um amigo que falou que prefiria um filho morto. Pois eu, seria tão feliz quanto, ou até mais, se tivesse a felicidade de ser sua filha no registro. Aos 5, 10 ou aos 20, se pudesse eu diria SIM a minha adoção por ele, pois ele já me adotou desde que eu nasci. Sempre será o meu pai e meu exemplo de homem. O maior e melhor homem que já conheci.

7 comentários:

Anônimo disse...

Importante... não, eu não me importaria de ter um filho gay...

Lena Dib disse...

Eu levo muito em conta o que você me diz sobre o sofrimento que todos os preconceitos podem trazer a uma criança. Acho justo, respeitador e uma ótima sinalização para mim. E o que pode me ajudar a ser imparcial é justamente levantar todos os problemas possíveis.

||-Marizinha-|| disse...

É delicado tocar nesse tipo de tabu... porque infelizmente a homossexualidade ainda eh um tabu para muitos. Acho que as pessoas não podem conseguem ver com bons olhos aquilo que vai de contra tudo aquilo que é o padrão que aprendemos. Eu teria um pai homossexual, apesar de eu não ter muita experiência com meu pai... mas mesmo assim... acho que isso não interfere no amor que ele iria me passar ou no aor que eu iria passar para ele.

Bjokinhas p/ vc Miloka... e boa sorte com seu trabalho ;)

Anônimo disse...

Lindo! Muito expressivo! Você tem escrito muito bem.

TE amo

Anônimo disse...

Ow, preciso falar com vc. andei pesquisando a respeito. Aquele lance da fila de adoção ser maior q a de adotados é verdade.

Se vc quiser, te arranjo um papo com umas assistentes sociais, psicólogas e Juiz da Infância e Juventude. São lá de Osasco e, segundo minha Juíza, eles têm trabalhado muito bem com adoção já há algum tempo.

PS: Ah, Diego, Pára, eu sou Diabético.

Francine Barbosa disse...

Pelo visto o trabalho vai ficar uma maravilha...Se precisar de ajuda é só chamar. Quem sabe a gente não faz um documentário? Bjos

Homem, Homossexual e Pai disse...

Lena, estou esperando seu contato se precisar me escrevas no email fabiofalt@yahoocom.br
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fabio