terça-feira, 10 de abril de 2007

Eu sou mais Cásper

Todo começo e fim de cada ciclo de nossa vida merece ser comemorado. E quando a festa é boa (e não tem como não ser, sendo cheia de amigos queridos), merecia não acabar.

Além de ser comemorado todo fim merecia um balanço. Ainda estava na ressaca da festa de formatura, quando uma espécie de prima distante, aos 17 anos disse que prestaria vestibular para jornalismo, perguntou se valia a pena o curso e a faculdade. Tempo para pensar. Ô perguntinha difícil. Eu odiei aquela faculdade. Salas quentes, corredores esfumaçados, pessoas muuuito mal-humoradas arrogantes, laboratórios insuficientes para o número de alunos e muitas vezes obsoletos, filas quilometricas para impressão e xerox, mensalidade galopante e vários professores que deixaram a desejar.

Alguns amigos que se formaram comigo recebem salários piores do que estagiários, outros desconhecem o que significa vida (aquilo que a maioria das pessoas aproveita aos fins de semana, feriados, dias santos). Dificil indicar um curso e uma faculdade assim. Mas, jamais me arrependerei, aos 17 anos eu não tinha nem dúvida do que queria. E apesar de todas as minhas reclamações, o saldo foi bom. Mesmo com todos os problemas, acredito que fiz uma das melhores faculdades do país. Recomendei, sem tanta convicção, mas recomendei a vestibulanda, desejando boa sorte.

Dois dias depois, um colega do trabalho, que não fez o mesmo curso e faculdade, tentou me provocar dizendo que a Metodista (aquela que fica lá na roça) é melhor do que a minha. Conseguiu me provocar. Pela primeira vez, tive a sensação de orgulho de minha origem (teve ter sido a proximidade com a formatura).

Lembrei que no fim do primeiro ano, eu e a Cabis odiavamos a Cásper, aquele lugar tão hóstil. Prometemos que já que não tinha jeito, a gente ia se esforçar pra amar aquela faculdade. Amar é forçar a barra, mas passamos a tolerar bem mais. E ela com certeza foi uma das melhores coisas da faculdade, e hoje uma das pessoas que mais torço e que mais me identifico.

Além dela e de mais meia duzia de pessoas que valem a pena, a minha faculdade merece ser uma das melhores porque:

1) Tive aula com o Clovis Barros Filho, o melhor professor de comunicação do Brasil. E somos a única faculdade de jornalismo com aulas do mestre;
2) Temos jornais laboratórios de dar orgulho - programa em TV aberta, rádio universitária AM, uma revista riquissíma e muito premiada, e um bom portal. (ok, a faculdade lá da roça e a que não quero nem de graça também têm bons laboratórios, mas não tem TV aberta, tá)
3) Meu TCC foi muito prazeroso e um grande aprendizado prático. Não fui obrigada a fazer monografia, que algumas faculdades exigem.
4) Último e mais importante - temos 40 alunos por sala x 80 da Metô e 50 da USP.

Tem gente que não acha que isso é lá grande vantagem, mas faz uma diferença incrivel. Isto porque eu fui mais do que um RA. Os professores sabem o nome de cada aluno, e pelo menos o Luis Mauro, Wellington, Igor Fuser, Rosangela Petta, sabem qual meu estilo, trechos da minha vida, qual meu ponto forte e o que preciso melhorar. E eles só conseguem fazer isso porque tinham tempo de olhar pacientemente todos os detalhes do meu texto, rabiscá-los e criticá-los, e até mesmo, sentar comigo e conversar o que estava bom e o que estava ruim.

E faz tanta diferença ter poucos alunos por sala, porque educação e conhecimento não se constroem passivamente, sentado ouvindo um bom professor. Com excessão de aulas mal preparadas, todas eram feitas em forma de debate e com participação da maioria dos alunos. Aprendi muito na minha sala de aula, ouvindo os meus colegas, que como a Toquinho falou - Vão sujar os sapatos e ser grandes escritores, reporteres, poetas, documentaristas, profissionais, pessoas.

Acho que valeu a pena.

Um comentário:

Anônimo disse...

Me identifiquei com o trecho "Alguns amigos que se formaram comigo recebem salários piores do que estagiários". Por que será, né? Hehehe.

Não tenho nenhuma saudade da Cásper, mas das pessoas que conheci lá - incluindo muitos professores. A Cásper, como instituição, é abominável. Mas lá tem muita gente, muita gente, que fez valer a pena.