terça-feira, 19 de agosto de 2008

Em defesa das novelas

Gosto de novelas pelo mesmo motivo que gosto de blogs pessoais - adoro ouvir uma história, desde que era criança. Contar bem uma história é difícil e por isso, encaro novela como coisa séria.

Ser escritor de novela está entre as profissões que mais admiro, porque o cara tem que ser melhor que a Sherazade para contar a mesma história meses a fio sem perder o ouvinte.

Não gosto de qualquer novela, mas se ela consegue reunir bom texto, ritmo, dialogo elaborado, boas atuações, uma produção impecável, ela tem mais é que ser admirada, assim como admiramos bons filmes, e peças teatrais. Alguns bons autores e obras merecem reconhecimento. Dê o braço a torcer e assuma:

Silvio de Abreu
Outro dia ouvi uma entrevista do Silvio de Abreu. Ele foi a única pessoa no mundo a ter Fernanda Montenegro e Paulo Autran contracenando um texto seu. Eles não aceitaram qualquer texto medíocre, não acham? Nunca o teatro, ou cinema, ofereceu esse privilégio ao seu público. E o melhor, quem teve o prazer de assistir "Guerra dos Sexos" não precisou pagar nada por isso. Era show de atuação gratuito, invadindo a sua sala.

Silvio também comentou como era excitante escrever um texto de algo vivo, que ainda está sendo produzido, diferente do teatro e cinema, porque as coisas vão fugindo do controle do autor e exigem muito mais dele. Ele citou que um dos atores que fazia um protagonista de sua novela precisou ser hospitalizado e ele teve de reescrever uns 90 capítulos já prontos.

Gilberto Braga

Gilberto Braga pra mim é um caso a parte sobre talento em telenovelas. "Anos Rebeldes" pra mim é uma obra prima. Não há no cinema nacional nenhum filme (e olha que são vários) que trate com tanta seriedade e beleza a época da ditadura brasileira. Em uma minisserie, ele conseguiu conduzir a história do Brasil considerando o antes-durante-depois sobre os anos de chumbo. E falou sobre os jovens conservadores, moderados e rebeldes. Sim, porque haviam todos os tipos de entendimento da ditadura nesse período e não apenas uma visão, como mostra em vários filmes. E ele ainda tem o mérito de ter apostado em um jovem elenco, que mandou muito bem. A produção era impecável, boa trilha e lembro até hoje da abertura com "Alegria, Alegria" do Caetano Veloso.

O mesmo autor também fez o remake de "A Malvada", filme clássico e genial. Atitude ousada e bem sucedida em uma das melhores novelas que já vi - "Celebridades". Muitas pessoas não poderiam assistir o filme, só encontrado em boas locadoras, mas a novela atingiu a todos e com muita qualidade. Aliás, na minha opinião, a Laura, intepretada por Claudia Abreu, mandou melhor que a Eve, personagem que dá nome ao filme.

Além disso, Braga tem em seu curriculo o mérito de matar a Odete Hoitman. Eu não tinha idade para acompanhar a ""Vale Tudo", mas é impressionante como ninguém esquece desse personagem. Só pode ter sido bem interpretado e escrito. Fora que 86% dos televisores ligados para ver o último capítulo da novela é um recorde impressionante. Nem Titanic dá tanta audiência.

Sua última obra, Paraíso Tropical, também foi bem conduzida, com ótimos personagens e dialogos de nível. Bebel e Olavo (Camila Pitanga e Wagner Moura) mereciam ser eternizados, bem como personagens coadjuvante deliciosos e bem desenhados.

Walcyr Carrasco
Outro ponto favorável para novelas foi a "O Cravo e a Rosa" de Walcyr Carrasco, uma adaptação de "A megera domada" de Shakespeare. Assisti a peça em cartaz com o Cacá Rosset, e achei a novela bem mais interessante. O teatro me deixou entendiada por duas horas, enquanto o texto de Walcyr me prendeu por meses. Fora que achei uma ótima sacada do autor, transferir a personagem (megera) Catarina para os anos 20, quando o feminismo estava pulsante e comporia bem para construir a protagonista.

Emanuel Carneiro
Se vocês acham que eu estou falando de passado, é porque estão perdendo a melhor novela de todos os tempos. "A Favorita" é genial. É a primeira vez que uma novela teve início sem definir quem era a mocinha e a vilã. Seguiu assim por uns dois meses, revelou o mistério (que normalmente, só aconteceria no último capítulo) e mesmo assim, não perdeu o ritmo. Pelo contrário, ditou um novo ritmo, se refez. A história central é tão excitante que nem dá espaço para num romance nhem nhem nhem.

Ah, também acho a Maria Adelaide Amaral foda. Mas isso eu já disse em outro post.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas faltou o Rei do Leblon... Maneco Forever!

Francine Barbosa disse...

Tem uma comparação sobre o suspense em "A Favorita" e Hitchcock, dá uma olhada na Carta capital.

Sobre Maneco: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=12230578

Continuo tendo preguiça de novela, mas acho sua defesa ótima.

bjo