sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ronaldo Futebol Clube


Como corintiana não me espantava sua aposentadoria – e acho que as razões eram nítidas aos olhos de qualquer um. Para a torcida tão intensa, que o recebera como rei mesmo gordo e destronado e agora pedia sua saída aos pontapés, era até um alivio. Sem trocadilhos, mas ele era um peso ao time, com salário de estrela e futebol a desejar, sem garra, paixão e aquela marotice que sempre me fez admira-lo.

Mas como fã, sofri e me emocionei, ao vê-lo se despedir. Não dá pra se lamentar e dizer que os jogos no Pacaembu terão menos brilho. Ele já não brilhava. O que me faz sofrer é me imaginar jovem ainda – 34 anos – tendo que abrir mão não só de sua carreira, mas de sua grande paixão. Deve ser cruel para atletas, que dependem de seu corpo. A cabeça mais madura, sabe cada vez melhor como se posicionar em campo, como tocar a bola, como deve ser cada jogada, mas o corpo te limita. Ronaldo disse com lágrimas nos olhos – “perdi para o meu corpo”, envelhecido, gordo e desgastado depois de ser o mesmo corpo, joelho e pernas que lhe deram tantas glorias, mesmo depois de 8! cirurgias.

Dizem que Ronaldo não soube parar, foi parado (assim como outro ídolo meu, Guga). Poderia ter se aposentado em tempos de gloria, mais jovem e quando ainda o chamavam de Fenômeno e não de Gordo. Mas futebol era tanto sua paixão, que jogou até o fim e isso me faz gostar tanto dele. Ele foi bem pago para voltar a jogar, mas acho que quando se tem tantos e tantos milhões, uns a mais já nem fazem tanta diferença. A diferença era ainda ouvir uma torcida imensa e louca gritar por ele – isso deve dar um tesão alucinante e viciante, que deve ser doloroso jogar a toalha e desistir.

Mesmo assim, o rei decadente teve uma semana de reverencias no mundo todo. Porque o Fenômeno não é Timão, não é Brasil, ele embasbacou o mundo com sua habilidade e velocidade com a bola – o cara que corria, driblava e finalizava, como se estivéssemos assistindo jogos de vídeo-game.

Ele se aposenta com uma historia que ninguém lhe tira - é ainda o maior artilheiro em Copas do Mundo (15 gols), jogou nos melhores times do mundo, foi a 4 copas do mundo, ganhou duas, uma no banco, outra na raça após uma grave lesão no joelho direito, e se fosse outra coisa que não brasileiro, teria voltado da França em 98 como herói que brilhou em campos, nos levou para a final e perdeu para o time que jogava em casa e com outro grande fenômeno em sua melhor fase: Zinedine Zidane.

Não me importa as polemicas, peso, convulsão, festas, travestis – com currículo mais extenso nessa área Maradona é Deus na Argentina – e eu sou Ronaldo Futebol Clube pra sempre, por sua paixão de jogar, suas jogadas geniais, sua capacidade de superação, por ter me dado tantas emoções, e ter me feito feliz ao trazer a taça de 2002, e ao poder comemorar ao vivo seus gols no Pacaembu pelo nosso Timão.

Um comentário:

Fábio disse...

Ronaldo é o segundo melhor jogador da minha geração, só atrás de Zidane.

Ronaldo é o melhor jogador brasileiro de minha geração, à frente de Romário e Ronaldinho.

Ronaldo é o mais importante jogador brasileiro no mundo pós-Pelé.

Ronaldo só tem um pecado, o de não ter jogado em seu time de coração, o Mengão. Os outros pecados, deslizes pessoais, fazem dele um ser humano como qualquer outro - e isso me deixa até um pouco mais tranquilo, porque passei anos de minha adolescência acreditando que o Fenômeno era mesmo um extraterrestre. É de carne e osso, como eu e você.

Ah, sim: eu também pequei. Mas foi por não ter cumprido minha promessa de 2008 de ir ao Pacaembu, em um jogo do Corinthians, para ver Ronaldo em campo bem de pertinho pelo menos uma vez na vida. Humpf.

Mas tudo bem, vai ficar na memória. E quem sabe um dia eu cruzo com um velho barrigudo por aí e agradeço, pessoalmente, por ele ter feito um pouco mais feliz um jovem garotinho apaixonado por futebol.