sexta-feira, 22 de junho de 2012

E se eu quiser falar com Deus

Na beira da cama, no auge do ceticismo, admirava, ou melhor, invejava a fé de cada um que entrava no quarto para fazer a sua oração ao meu pai. Tudo o que eu queria era acreditar. Era acreditar que eu não sou impotente, como me sinto. Era acreditar que ele vai ficar bem. Que Deus ajuda quem confia os problemas em suas benevolentes mãos. Era acreditar que pelas minhas mãos poderia chegar a salvação, como eles ali acreditavam.

Talvez fossem melhores do que eu por isso, talvez muito piores do que eu por outros tantos motivos. Mas eles tinham a força que só a confiança e a fé podem oferecer quando não temos saída.

Eu também queria falar com Deus, como eles falavam, e pedir para Ele nos proteger, abençoar, e nos livrar de todo mal. Mas eu queria ainda acreditar que Ele iria me ouvir. E como falar com Ele agora, depois de tanto tempo? Seria como um amigo que só lhe procurasse para pedir dinheiro emprestado, depois de anos sem contato.   

Eu queria lembrar o porquê fiquei tanto tempo sem falar com Ele. Por que quis tanto ser cética se eu já havia sido das mais devotas ovelhinhas? Se eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria haver o dia em que toda a ciência e toda razão não iriam resolver, por quê? Se eu sabia que ninguém vive sem ao menos ter um dia de dor ou angustia, como a que aperta meu peito agora, por quê?

Pra mim, os crentes eram arrogantes (não me refiro aos evangélicos, mas a todos os que creem) e muitas vezes são ao acreditarem serem mais fortes ou mais abençoados do que os outros. Mas o ceticismo faz de mim tão arrogante quanto, por me achar mais racional e lúcida do que os outros – ah, os ingênuos enganados pelo ópio das religiões. Mas tem uma hora na vida que tudo o que você inveja são as pessoas que sabem ajoelhar e admitir que são (somos) frágeis, que somos tão pouco.    

Um comentário:

Bel disse...

Mi querida, você já está falando com Deus...independentemente de acreditar de um jeito ou de outro, de crer com mais ou menos força. Quando tomamos consciência da nossa impotência nos rendemos às forças maiores, da vida e do universo. E é nessa hora que tiramos um pouco o peso das nossas costas porque nem tudo (e eu acredito que felizmente) está em nossas mãos. Colocar-se em sintonia com essa força maior é falar com Deus, seja ele quem ou o que for.
Se precisar de algo pode contar comigo.